O ambiente político influencia diretamente nos negócios

15 Abril, 2019

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Por José Luiz Amaral Machado*


Estamos assistindo um início de governo cheio de complexidades ou altos e baixos em suas atitudes como, por exemplo, na habilidade de relacionamento com os outros poderes, setores da economia e sociedade. Diante deste quadro, ficamos inseguros em função da necessidade do retardo das medidas que há tanto esperamos, bem como em na sua forma de relacionar-se com os demais poderes, meio empresarial e a própria população - que ainda amarga alto índice de desemprego, e por isso enfrenta forte insegurança e desorientação.


No início do ano acompanhamos as dificuldades de saúde do nosso presidente, Jair Bolsonaro, - quando foi submetido a tratamento para enfrentar o resultado do atentado que sofreu-, e por isso a decisão de muitos assuntos que todos nós aguardamos entraram em compasso de espera. Passado esse primeiro momento - que correu bem graças ao bom atendimento que recebeu o chefe do governo temos -, agora a ansiedade de ver avançar medidas que tanto o Estado como sua sociedade almejam.


Esperamos ansiosos medidas objetivas dos nossos governantes e do Legislativo no sentido de assistirmos perspectivas de controle da difícil situação fiscal que enfrenta nosso país. Esperamos, também, que o início do processo desencadeie uma esperança que auxilie a economia a reagir, e junto venha uma perspectiva de melhora no emprego no Brasil.


Entretanto, o que temos assistido são simultâneas situações de constrangimento entre o Executivo e Legislativo e, ainda, ações do Judiciário que nos deixam tensos e preocupados, pois nos sentimos em um terreno com a segurança jurídica questionável.


Veja os exemplos que assistimos nos últimos dias:


Verificamos uma troca de informações e declarações entre o Executivo e o Legislativo sobre o relacionamento dos poderes em relação às perspectivas de andamento da reforma da previdência e as medidas propostas pelo Ministro da Justiça, Sérgio Moro, em questão de segurança. Essa situação acabou gerando grande constrangimento entre os atores envolvidos.


Esse cenário refletiu no mercado, que vinha em um processo de reação positiva e com perspectiva de confiança alta - mostrando um comportamento ótimo da Bolsa de Valores, a qual chegou a quase 100.000 pontos o dólar voltando a patamar "mais comportado". Este quadro otimista significava uma expectativa positiva do mercado e significa um impulso a nossa economia. A medida que os impasses políticos ganharam maiores proporções, o mercado imediatamente mostrou uma reversão a essa tendência otimista.


Esse processo leva consequentemente à reações daqueles empreendedores que estavam se preparando para tomar decisões que induzem a um movimento positivo e com consequências que trazem ao sistema empresarial bons ventos. Esse cenário otimista que proporcionava um sentimento de ânimo aos empresários para avançarem com seus projetos e, por consequência, logo aparecer oferta de empregos e oportunidades e reações positivas com perspectivas de futuro fica novamente em suspenso, ou em compasso de espera.


Pois bem, esse início de um clima de expectativas boas não durou "uma noite de verão". O presidente e alguns de seus parentes fizeram manifestações em redes sociais que acabaram por gerar um enorme constrangimento com o Legislativo, na pessoa do seu presidente, Rodrigo Maia.


Ora, com os cem dias do novo governo recém completados, tudo o que necessitamos é uma excelente comunicação e foco no que deve ser a preocupação principal do Governo. Deve colocar em marcha o que tanto propalaram na campanha e que fez com que muitos dos eleitores se decidissem em apoiá-lo.


"Os conflitos de comunicação inadequada" imediatamente geraram um clima de desconforto e desconfiança no mercado afetando fortemente os negócios e o meio empreendedor. Assistimos a Bolsa ter uma forte queda e a consequente reação do dólar. Alguns órgãos importantes como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o próprio Banco Central (BC), além do mercado, revisaram para baixo a projeção do PIB para esse ano de 2,7% para 2%.


Infelizmente, o mercado e o mundo dos negócios são extremamente sensíveis ao ambiente político. Momentos delicados como este impasse entre a Presidência da República e o Legislativo representam insegurança para os planos e projetos que estão para serem iniciados, uma vez não efetivadas a medidas necessárias e considerando a grave situação fiscal é de esperarmos: aumento de impostos, juros altos, e inflação com tendência de alta.


Nesse sentido, o empresariado automaticamente assume uma posição de cautela fazendo com que nossa necessidade de reação positiva na economia continue retardando o processo de geração de novos empregos, entre outras ações que trazem à sociedade efeitos positivos. Disso tudo o que observamos, foi necessária uma enorme canalização de energia e esforço do Governo para colocar em ordem o clima criado entre o Executivo e o Legislativo. Energia essa que seria muito mais útil quando dedicada a um trabalho de apoio e de busca de entendimento entre os poderes para que os projetos de reformas propostos pudessem evoluir com celeridade.


Mas, infelizmente, nesse pouco mais de cem dias de Governo, temos assistido mais de um fato com essa natureza de comunicação inadequada.


Para que possamos avançar no que almeja nossa sociedade - que é mais emprego, renda, mais segurança e atenção efetiva à saúde - necessitamos de um clima positivo e que promova ações que efetivamente mostrem um avanço na melhora de nossa máquina pública e na saúde das finanças do nosso país.


Isso acontecendo, automaticamente o mundo dos negócios responde com mais empreendimentos, mais empregos e, consequentemente, mais renda. Gerando até mesmo a oportunidade de surgimento de um ambiente de atração de investimentos de fora do país. Isso tudo é muito bom e importante à nossa sociedade.


Animados assistimos nesses últimos dias uma trégua na crise política. E, logo percebemos uma reação do investidor e da Bolsa.


Muitas pesquisas realizadas mostram que o Brasil é um país onde existe uma forte propensão ao empreendedorismo. Basta ver o resultado da pesquisa realizada pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor — o principal estudo de empreendedorismo do mundo), indicando que em dez anos, o Brasil passou de 14,6 milhões de empreendedores para 49,3 milhões, ou seja de 2007 a 2017 mais q o principal estudo de empreendedorismo do mundo), indicando que em dez anos, o Brasil passou de 14,6 milhões de empreendedores para 49,3 milhões, ou seja de 2007 a 2017 mais que triplicou o número de pessoas entre 18 e 64 anos que exerciam alguma atividade empreendedora no país. E o SEBRAE, também, tem divulgado pesquisas nesse sentido.


Isso nos permite identificar que se desfrutarmos de um ambiente favorável, nosso país vai sem dúvida experimentar um forte avanço no que diz respeito ao surgimento de novos negócios. Entretanto, necessitamos que medidas sejam efetivamente encaminhadas, como: a implementação das reformas, a redução da burocracia e a revisão do sistema tributário. Nascendo, imediatamente, um clima favorável de tal forma que se tenha possibilidade de desfrutar de um horizonte mais amigável, sem ameaças de medidas radicais e hostis aos negócios.


Desta forma podemos sim, afirmar que o clima político influencia diretamente o ânimo e a propensão de empreendedores e investidores (brasileiros e estrangeiros) concretizarem seus projetos, prejudicando fortemente a velocidade com que necessitamos apresentar resultados para atender um melhor ambiente nos negócios e para melhorar qualidade de vida da nossa sociedade.


*Machado é economista e fundador da Gerencial Auditoria e Consultoria.

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